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quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Dona Naná, a inspiração de estudantes em Itaguaí



Aluna mais idosa da rede estadual entrou para o curso Normal esse ano, aos 85, e sempre sonhou ser professora. Dona Naná é de Itaguaí e está matriculada no 1º ano do curso de formação de professores do Colégio Estadual Clodomiro Vasconcelos

Itaguaí - Ignácia de Carvalho do Carmo, a dona Naná, é a prova de que nunca é tarde para sonhar e lutar pela realização de um desejo. Aos 85 anos, a moradora em Itaguaí, matriculada no 1º ano do curso de formação de professores do Colégio Estadual Clodomiro Vasconcelos, no mesmo município, se tornou a aluna mais idosa da rede estadual de ensino. Voltar a estudar, para ela, é a realização de um sonho antigo de menina. Filha de lavradores, só frequentou escola durante um ano, na infância. O retorno para sala de aula se deu aos 82 anos, já viúva.

— A vida me disse muitos nãos. Muita coisa que eu queria realizar não consegui. Ter filhos foi uma delas. Mas realizei o sonho de voltar a estudar para ser professora — disse a idosa.

Vestir o uniforme — uma blusa branca, saia plissada e meias 3/4 — é um dos motivos de maior orgulho para dona Naná, que faz questão de cuidar pessoalmente para que a roupa esteja sempre em ordem, limpa e passada. É que quando entrou para a escola pela primeira vez aos 11 anos, não tinha vestimenta adequada, porque a família era muito pobre. Com vergonha e medo de ser chamada à atenção, nunca comparecia às quintas-feiras, dia em que a direção fazia a conferência do uniforme. E não podia estar faltando nenhuma peça.
— Não queria fazer feio né? Minha família não tinha condições (de comprar uniforme), então o jeito era faltar a aula às quintas. Eu usava um sapato com solado de cordas. Como iria me apresentar sem os sapatos?

O dia que comprou o uniforme foi o de maior alegria para a estudante:
— Posso dizer que foi a maior alegria da minha vida o dia que vesti esse uniforme, minha consagração. Comprei logo dois para que eles fiquem sempre limpinhos. Não gosto de ver as meninas que não cuidam de seus uniformes. O meu está sempre lindo – fala, com orgulho a aluna que deixa a roupa preparada de véspera, para não fazer feio diante das colegas.



Dona Naná, como é carinhosamente chamada pelos colegas, faz parte de uma turma cuja idade dos alunos varia entre 14 e 17 anos. A vovozinha de cabelos grisalhos, saia abaixo do joelho, óculos de grau e um largo sorrido no rosto não demorou muito para conquistar todos e se transformar no xodó da escola.
— Ela é muito linda. Ela arruma o cabelinho todo para trás. Até nos dias frios ela vem toda arrumadinha, mesmo quando não dá para usar saia ela coloca calça do uniforme, sapatilha e vem impecável – elogia colega de turma Maria Eduarda Espinheira, de 15 anos.

Ana Clara Venturin, de 16 anos, destaca a alegria da colega idosa, por estar realizando um antigo sonho de criança:
— Quando vim para a escola já sabia que a Dona Naná estaria na turma. Ela chegou aqui no segundo dia de aula, com um sorrisão no rosto, feliz de estar realizando seu sonho. E eu fiquei mais feliz ainda de ver ela, com a idade que tem, fazendo o que tanto desejou a vida toda.



A diretora do colégio , Wania do Santos Dumont disse que recebeu com surpresa a aluna idosa e está feliz por contribuir para a realização do sonho dela.
— A gente abraçou a Dona Naná e a experiência está sendo magnífica. No início ficamos preocupadas dela não ser muito bem recebida pelas outras alunas. Mas não houve conflito de idade, ela aqui é respeitada demais e muito querida. Já sonhamos com a formatura da turma. Imagina, vai ser um espetáculo! – prevê.



Terceira filha de uma família de 11 irmãos, Ignácia foi a única que não prosseguiu nos estudos. Aos oito anos ganhou de presente do pai uma enxada e foi trabalhar no campo. Ela gostava de mexer com a terra, mas sonhava mesmo era estar em uma sala de aula, o que só aconteceu em 1948, aos 11 anos de idade. No entanto, a alegria durou muito pouco. No final do ano letivo, o pai achou que a menina seria mais útil ajudando na lavoura. Aos 17 anos, veio o casamento, que durou 51 anos e oito meses, até o falecimento do companheiro, há 16 anos, aos 76.
— Meu pai não incentivava os filhos a estudarem, queria que a gente trabalhasse. Mas era meu sonho estudar e desde pequena já dizia que queria ser professora. Não pensava em outra coisa — reclamou dona Naná que, ainda assim, teve uma irmã, dez anos mais nova, que chegou a concluir o curso universitário e se aposentou como assistente social.

Assim como pai, o marido dela também não incentivava o seu interesse pelos estudos. Depois de viúva voltou a comentar com a família sobre o desejo de voltar para sala de aula. Até que há três anos, aos 82, uma sobrinha chegou em casa dizendo que tinha matriculado a tia numa turma de jovens e adultos de uma escola municipal. Dona Naná contou que foi submetida a um teste ingressou no 4º ano. Nem mesmo a pandemia, que veio logo em seguida foi capaz de conter o seu entusiasmo.
— Durante esse período minha sobrinha ia à escola pegava as apostilas e eu estudava em casa — contou a aluna que voltou a frequentar sala de aula presencialmente no começo desse ano, já no curso Normal, em outra escola, onde também se matriculou com a ajuda da sobrinha.

Dona Naná diz que está vivento o melhor momento de sua vida e não se entristece nem em saber que não vai ter pique para encarar uma turma de alunos para dar aulas com mais de 87 anos, a idade que terá quando se formar daqui a dois anos. Mas, na sua opinião, só de ter conseguido voltar a estudar já valeu a pena ter chegado até aqui:
— Só de vestir o uniforme já me sinto realizada— concluiu.



Por mais Nanás em nossos dias!!!

Com jornal Extra e governo do Estado do Rio de Janeiro.

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